segunda-feira, 21 de março de 2011

::: Em 2006, domingo :::

Sono. Telefone.
A voz dela parecia um despertador na minha alma. A surpresa de ter sido arrancado do marasmo de final de domingo por ela fez sumir toda a solidao daquele fim de semana.
Ela parecia chorar. E chorava. Chorava de saudade. Saudade de ser amada, de ter carinho, de ter quem se preocupasse e com quem se preocupar. Eu falava pouco. Bebia cada palavra como uma semente que incha d´água.

E sofria.

Por ter sido do jeito que foi, por nao ter acreditado, por ter sido o que ficou para trás.
Agora é assim. Dificilmente vai passar tão cedo.Talvez a gente se reencontre em março. Talvez não.

"O mundo é cheio de esquinas. De repente, a gente se esbarra por aí numa delas.", eu falei. Mais uma ilusão. Tenho dezenas de centenas de quilômetros e um DDD estranho para lembrar que ela já foi embora. Com ele. O mesmo de sempre.

A voz dela mudou quando eu disse que os maus sempre se dão bem, que eu sempre me fodi. Minha propria culpa, eu sei. Mas sou um romantico incuravel e inegavelmente gosto disso. Ela disse que nao era bem assim. Mesmo lá, o que poderia haver de melhor nao era dele. "Mas você continua aí.", pensei.

Fumar. Puta que pariu, preciso de um cigarro. A essas alturas quem chorava era eu. Ela nao percebeu, ainda bem. Queria te dar segurança e a chance de te fazer feliz. De verdade. Ela disse nao precisava de nada. Que eu já fiz muito mais que qualquer outro já fez.

Amenidades então. Rimos juntos e lembramos de coisas boas. De pessoas boas. De uma vida que poderia ter sido muito boa.

Meu sono já tinha ido pro espaço quando o dela bateu. Duas e cacetada da manhã. Um beijo. Fica bem, tá? Uma ou duas promessas via satélite. Três palavras numa frase que sempre dá medo de dizer. Tchau. Boa noite.

Fiquei acordado por mais umas três horas. Comprei o cigarro. Fumei. Bebi água. Fumei e fumei de novo. Chorei. E, talvez por uma vontade da natureza em dizer que poderia fazer melhor que eu ou por essa mesma natureza entender e compartilhar um pouco dessa saudade, começou a chorar o céu também.


Republicado do extinto BlogFilho

Um comentário:

  1. "E,talvez por uma vontade da natureza em dizer que poderia fazer melhor que eu ou por essa mesma natureza entender e compartilhar um pouco dessa saudade, começou a chorar o céu também."

    Isso foi muito doce!

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